Hoje a saudade me abandonou.
Percebendo extasiado que a nostalgia o deixava, colocou as mãos em forma de concha envolvendo a boca e gritou:
“Aonde vais? Qual o motivo do feliz abandono?”
“Não te preocupes. Logo volto. Vejo que não precisas de minha presença uma vez que tens, por hora, a alegria e os breves devaneios que vêm acompanhados de alguns sonhos.”
“E quanto a saudade? E se a saudade de ti, nostalgia, me visitar, o que lhe digo?”
“Não te preocupes, diga-lhe que não me demoro. Conhecendo-lhe bem, sei que logo requisitarás minha presença.”
“Não vás até muito longe. Se converso contigo, sei que tens compromisso profundo com minha pessoa.”
“És sempre tão incoerente? Logo volto, já disse para que não te preocupes. Se achar um espaço, logo volto.”
Puxou ar para os pulmões. Que era aquilo, afinal? É um tanto emocionante pertencer à vida. E como dizer oi para alegria? E veja bem, alegria não é felicidade. Não se deixe confundir. Ser triste pode não ser grande empecilho para encontrar o caminho da felicidade.
“Olá, espero que tenhamos tempo suficiente para conhecermo-nos melhor.” – disse ele, agora sem gritar, numa voz que não conseguia esconder o temor.
“Que tipo de pessoa conversa com a própria alegria?”
“Alegra-me ainda mais saber que obedeces à minha pessoa, e que se tuas palavras me agradam, sou eu quem merece a glória.”
“Mas se te alegras ainda mais, tens mais alegrias com quem conversar. Ou serei eu mais intensa a cada comentário?”
“Não me canses, não fales tanto. Poupe-se para que conversemos ainda um bocado durante a manhã.”