Transcrever emoções, sentimentos, passado, futuro ou desejos, é viver - ou reviver - tudo o que há de melhor.

domingo, 27 de maio de 2012

Eyes wide shut


Era uma bela cena. O pecado mais pecaminoso.
A su derecha ocho cuerpos llenos con amor y sudor. Besos y abrazos.
On his right he could see a very similar scene, except that there were lots of wet bodies.
À sua frente estava a fonte da bela voz que ouvia. A perversidade recheando uma face angelical. Aproximou-se muito rapidamente. Ela estava sentada à beira do que parecia ser um palco. Um palco suficientemente alto para que os olhos de ambos ficassem à mesma altura. Olhou-a por 5 segundos, deitou as mãos em suas coxas e percebeu certo tremor na voz antes perfeita, aveludada, imaculada. Sentiu os poros fechando-se.
Beijou-lhe o pescoço e o lóbulo da orelha. Sentiu as pernas dela prendendo-lhe com força. Mordeu-lhe os lábios com extremo cuidado, pediu sua língua e sentiu o corpo da linda Marcela enrijecer e a respiração ficar mais curta.

O restante não me compete contar. De olhos bem fechados, você saberá o que ocorreu, não é mesmo, Kubrick?

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Memorável solidão?


Depois de trinta e nove minutos na sala de espera lendo uma revista que há dois anos fora lançada, seu nome foi chamado - “Ricardo Mendes.”
Levantou-se calmamente e dirigiu-se à pequena sala. Quando passou pela recepcionista, acenou levemente com a cabeça. Era linda. Linda demais.
Tinha toda a mentira arquitetada. “Que estupidez”, pensou Ricardo consigo mesmo, “acabo de pagar noventa reais para poder contar mentiras.”
Meteu-se porta adentro, e dois passos depois, parou para encarar a dona dos olhos que o analisariam. Excessivamente bonita.
“Isto não é certo, caro leitor. O julgamento não é justo tendo à minha frente um ser tão superior.”
Não abriu a boca. Olhou para a poltrona vazia à sua frente. Sua juíza concordou com os olhos e ainda abriu um meio-sorriso. Ricardo sentou-se, abaixou a cabeça, pousou a mão na testa e apertou os olhos em sinal de desespero. Sua representação durou cinco segundos. Quando levantou a cabeça, a mulher que era loira há alguns segundos agora estava morena. Seus olhos, antes castanhos, eram de um verde estonteante.
Apertou os olhos uma vez mais, balançou a cabeça e com as mãos tremendo, arriscou um novo olhar. Não era possível. Enlouquecera. Sentiu-se impelido a beijar-lhe as bochechas. Cerrou os olhos e forçou a mandíbula. Sentiu o peito comprimido. Tentou falar mas não conseguiu abrir a boca. Sentiu o amargo do sangue misturando-se à saliva. Limpou a testa com as costas das mãos.
Uma forte brisa invadiu a sala e Ricardo sentiu-se incomodado. Procurou uma janela aberta e não achou. De onde viera a brisa? Engoliu um pouco do sangue e tentou reclamar com a doutora que já então não era loira e tampouco morena. Era agora uma Dona ruiva com lindas sardas. Palavras não saíram.
Pensou em levantar-se mas desistiu para poupar o fôlego. Seu cérebro sentia a falta do oxigênio.
Desmaio iminente. Piscou para a doutora. Dois segundos antes do desmaio, ouviu seu nome:
“Ricardo Mendes.”
Virou-se repentinamente e mirou a secretária, que ao perceber que ninguém respondera, chamou uma vez mais: “Ricardo Mendes”. Ricardo levantou-se. Não conseguiu conter um sorriso. Encontrava-se na sala de espera. Largou a velha revista em cima da pequena mesa e dirigiu-se à porta aberta. Tinha toda a mentira já arquitetada.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sexo


Uma piscadela, um lisonjeio - aliás, um belo lisonjeio - e conseguiu o que queria.
Em realidade, era um grande esforço pra manchar a bela reputação que tanto lhe fazia mal.
Mais quatro dias de esforço, investimentos contínuos e outro sucesso.
Um caso antigo volta a ser realidade. Flertes e mais flertes. Mais um motivo pra acabar com sua reputação.
Falta de sucesso em duas tentativas, e êxito na subsequente. Assim viveria tão cálida vida. Quietude inquietante. Três beijos, um convite, uma cama bagunçada e a privacidade compartilhada.
Gargalhadas, um ranger de portas, fuga, correria, e alívio.
Mais dois beijos, alguns amassos, um café e quarenta minutos de prazer.
O perigo de uma vida entre outra vida. Susto, outro alívio, e mais quarenta minutos pela redenção.

domingo, 20 de maio de 2012

Datado de 31/12/2011 - Meu singelo ódio


A cada dia que passa, tenho mais motivos para odiar a vida.
E eu à odeio, amigo. Eu à odeio.
Odeio minha covardia, e quando a covardia some por alguns instantes, odeio minha honestidade. Nunca me leva a lugar algum.
Odeio estar tonto.
Odeio este maldito sentimento. Odeio.
Odeio sentir todo este ódio. Odeio minha vida. Odeio a vida. Odeio minha existência. Odeio sobreviver e não viver. Odeio não ter sua língua junto à minha. Te odeio.
Não é algo pessoal apesar de eu odiar-te um pouco mais que aos outros. É quase um lisonjeio. Te odeio. Odeio ter sentido saudades de me sentir assim.
Me odeio.
Odeio não conseguir reprimir toda esta esperança.
Te odeio por não ter me retirado toda a esperança.
Odeio todos os seres humanos.
Odeio conviver com cada um de vocês, porque os que me fazem bem, acabam por me fazer sentir-me mal.
Te odeio. Odeio o mundo. Odeio a vida, e com o perdão da repetição, odeio a vida. Odeio profundamente a vida. Odeio a ideia do suicídio. Odeio achar tal ideia charmosa. Te odeio.
TE ODEIO em caps lock. I hate you. Odeio o leitor e o escritor.
Odeio as profissões, a falta de opções, a inteligência e a falta de Inteligência. Odeio sua perfeição. Odeio profundamente a sua perfeição.
Odeio o amor platônico.
Odeio o Pataca.
Odeio meu ódio.
Odeio minha sabotagem, e odeio ainda mais a sua.
Chega! Chega disso! Te odeio por não gostar de mim da mesma maneira.
Odeio toda garota que me atrai.
Te odeio.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Sem cores


Tentei não usar este espaço para coisas muito pessoais, mas na falta de um ombro, tenho um blog.
Talvez seja bobeira, talvez não devesse sentir-se assim, quiçá egocentrismo ou expectativas muito altas. Não devia ter pensado que era tão importante. O tombo é bem maior.
E eu que andava execrando a solidão, já penso logo numa reconciliação. Venha cá, velha companheira. Venha cá.
Se quem te deu a vida não se lembra, não deves passar de um vulto. Talvez seja apenas drama. Talvez não passe de curta decepção. Altas expectativas. A volta da depressão.
Então que vá aos Diabos este maldito dia que foi feito especialmente para decepcionar-nos.
Agradeço a quem começou bem meu dia e os amaldiçôo por terem o meu ego inflado para que ainda no mesmo dia o mesmo fosse furado. Vinte e três facadas o roubaram o ar. E o dia acabou deixando um gosto amargo e 145 palavras de angústia.