Certa vez me apaixonei por uma garota normal demais. Foi um
grande erro. Ambos sabíamos que não daria certo. Ela provavelmente sabia que eu
era uma aberração sem tamanho para ela. É isso o que sou, uma aberração sem
tamanho. Ela um dia me disse, apenas com o olhar, que eu era a pessoa mais
diferente que já havia entrado em sua vida. Não posso culpá-la. Vou dizer-lhes
coisas sobre mim: Gosto da ideia de morar sozinho em um pequeno apartamento com
paredes que tenham o reboco falho. Tenho amizades de longa data com pessoas que
não se encaixam em lugar algum na sociedade, fico admirado pelo que não entendo,
e vivo as vidas de personagens de livros. A atração física que sinto por uma
garota pode dobrar de intensidade dependendo de suas ideias. E... gosto de
insanidade. Como poderia culpá-la?
Aos vinte e três dias do mês de novembro, deitei em minha
cama, encostei a cabeça em um travesseiro, flexionei a perna esquerda e passei
a direita por cima dela, deixando-as cruzadas, como de costume. Deitado, tentei
encontrar uma ponta de razão, uma plausível explicação, um por quê, meio por
quê, uma pista, qualquer indicação de qualquer motivo para ter me apaixonado.
Não tenho o costume de ter tanta pretensão, nem de sentir mais que uma pequena
atração por alguém que não seja ao menos um pouco disfuncional. Não é do meu
feitio ser tão agressivo, e estive muito desapegado antes de conhecê-la. Colocando
as mãos debaixo da cabeça, abri a boca em um sorriso amargurado, puxei um pouco
de ar para os pulmões e depois forcei-o para fora – como se quisesse expelir,
além do ar, algo que estava dentro de mim – e em voz alta constatei que “devia
estar procurando mudanças,” pois outra explicação não me ocorreu. Continuei
deitado na mesma posição por pouco mais de duas horas, às vezes trocando as
pernas, passando a esquerda por cima da direita, e vice-versa. Ao final da
segunda hora, levantei as sobrancelhas e parei de balançar o pé direito, que
dançava livremente pelos últimos quarenta minutos. Segurei a respiração e ri de
mim mesmo. “Memorável...” Gargalhei. Sou uma droga de um louco, é o que sou.
Uma aberração, como supramencionado. Não estava em busca de mudança. Estava em
busca de sentir aquilo que quase me matou. Maldita nostalgia. “HÁ-HÁ-HÁ!
Memorável sofrimento!” Depois de alguns minutos, levantei-me e pus-me a desenhar. “Devo estar tentando me
matar.” O sorriso amargurado não me abandonou durante aquela noite. Foi algo
surreal. Quiçá irreal.