Transcrever emoções, sentimentos, passado, futuro ou desejos, é viver - ou reviver - tudo o que há de melhor.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Sem um bom título


Certa vez me apaixonei por uma garota normal demais. Foi um grande erro. Ambos sabíamos que não daria certo. Ela provavelmente sabia que eu era uma aberração sem tamanho para ela. É isso o que sou, uma aberração sem tamanho. Ela um dia me disse, apenas com o olhar, que eu era a pessoa mais diferente que já havia entrado em sua vida. Não posso culpá-la. Vou dizer-lhes coisas sobre mim: Gosto da ideia de morar sozinho em um pequeno apartamento com paredes que tenham o reboco falho. Tenho amizades de longa data com pessoas que não se encaixam em lugar algum na sociedade, fico admirado pelo que não entendo, e vivo as vidas de personagens de livros. A atração física que sinto por uma garota pode dobrar de intensidade dependendo de suas ideias. E... gosto de insanidade. Como poderia culpá-la?
Aos vinte e três dias do mês de novembro, deitei em minha cama, encostei a cabeça em um travesseiro, flexionei a perna esquerda e passei a direita por cima dela, deixando-as cruzadas, como de costume. Deitado, tentei encontrar uma ponta de razão, uma plausível explicação, um por quê, meio por quê, uma pista, qualquer indicação de qualquer motivo para ter me apaixonado. Não tenho o costume de ter tanta pretensão, nem de sentir mais que uma pequena atração por alguém que não seja ao menos um pouco disfuncional. Não é do meu feitio ser tão agressivo, e estive muito desapegado antes de conhecê-la. Colocando as mãos debaixo da cabeça, abri a boca em um sorriso amargurado, puxei um pouco de ar para os pulmões e depois forcei-o para fora – como se quisesse expelir, além do ar, algo que estava dentro de mim – e em voz alta constatei que “devia estar procurando mudanças,” pois outra explicação não me ocorreu. Continuei deitado na mesma posição por pouco mais de duas horas, às vezes trocando as pernas, passando a esquerda por cima da direita, e vice-versa. Ao final da segunda hora, levantei as sobrancelhas e parei de balançar o pé direito, que dançava livremente pelos últimos quarenta minutos. Segurei a respiração e ri de mim mesmo. “Memorável...” Gargalhei. Sou uma droga de um louco, é o que sou. Uma aberração, como supramencionado. Não estava em busca de mudança. Estava em busca de sentir aquilo que quase me matou. Maldita nostalgia. “HÁ-HÁ-HÁ! Memorável sofrimento!” Depois de alguns minutos, levantei-me e pus-me a desenhar. “Devo estar tentando me matar.” O sorriso amargurado não me abandonou durante aquela noite. Foi algo surreal. Quiçá irreal.