Transcrever emoções, sentimentos, passado, futuro ou desejos, é viver - ou reviver - tudo o que há de melhor.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Capaz / Não-Capaz / Incapaz


Sinto-me extremamente fraco. Não controlo coisa alguma. Sinto-me impotente. Estou extremamente cansado de sentir-me assim, mas não sei o que fazer. Considerei algumas absurdas hipóteses. É tudo tão escuro...  Falhei em coisas demais. Esta incapacidade me maltrata. Não consigo perceber como posso fragilizar-me tanto. Tento convencer-me de que não sou assim, mas não consigo mentir tão bem.
Estou tão cansado de tentar...! Tu me deixas fraco demais. Arrependo-me por ter tropeçado em ti. Amaldiçôo aquele momento. Esta incapacidade... Não posso baixar a guarda. É algo em que sou péssimo, manter as defesas altas. Eu queria muito ter o ódio como aliado, mas não posso sequer esforçar-me para isto. Não sou esta pessoa. Já não sei que pessoa sou. Sei que tenho nojo de mim mesmo, e entendo pelo que deve ter passado. Sei que não sou muitas coisas. Estou certo de que não sou apropriado. Não sou forte, não sou o bastante, não sou agradável por muito tempo, não carrego comigo a beleza ou algo que seja do interesse comum. Entendo tua escolha, mas não posso deixar de abaixar a cabeça e estalar a língua com desgosto a cada vez que penso nisto. Às vezes me pergunto quando foi que me tornei tão disfuncional. Não me encaixo bem em lugar algum.
Tenho tantas coisas ruins para contar! Meu estômago não me deixa em paz. Preciso arrumar um jeito de livrar-me disto. Não sei quanto tempo posso aguentar. Estou cansado de comprimir os lábios e balançar a cabeça negativamente. Não posso fazer parte disto. É pesado demais.Talvez eu devesse... não sei. Pensei que fosse impossível derrotar quem já está derrotado, mas enganei-me uma vez mais.
O mal foi cortado na altura do caule.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Solid(ão)ariedade


Hoje, ao chegar em casa, me deparei com uma carta assinada por Tainá:

Every time I had my heart broken, I took a dive into either studying, or working. If I hadn’t had my heart broken so many times, I would not be a book lover, neither would I speak English. I wouldn’t be able to understand some stories, and would never – ever – wish to be a writer.
If I hadn’t suffered, I wouldn’t have gotten better. And I’m pretty sure I still need to suffer an awful lot in order to become what I dream of being, but this pain is very tiring, and sometimes I simply prefer happiness other than improvement.
There’s something you should know about it: the deeper you dive into studying, the more frustrated you get. When it comes to knowledge, the more you accomplish, the farther you become from relief.
That shouldn’t impede you from wishing to be smarter, though. I fight myself every day, trying to convince me that smartness is more important than anything, but I seem to be losing the battles.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Um QUÊ


Não consigo pensar em tarefa mais árdua chüe a de descrevê-la. Meus caros, não há no mundo tempo suficiente para chüe alguém possa cansar-se de sua presença. Não me arrisco a descrevê-la fisicamente, só o chüe vos digo é chüe é linda. Cuatro pessoas converteram-se em poetas após uma tarde em sua presença. Uma vez envolvido em uma conversa com ela, vossas excelências, eschüece-se o mundo. Pouchüíssimas pessoas são tão agradáveis. O jeito com o cual não se importa com chüem está ao redor ouvindo sua conversa... caríssimos, ela é improvável. Não sei chüe tipo de artista se arriscaria a produzir algo tão original, mas temos de admitir chüe um bom trabalho foi feito. Não tenho certeza de chüe isto represente grande saliência em sua vida, mas afirmo, sem temer estar errado, chüe é bem chüista em cualchër lugar. O homem mais otimista não imaginaria tamanha personalidade combinada à tanta beleza.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Mean in your head


I like it when you kindly hide your bangs behind your ears, I like that goddamn beautiful smile of yours, your thin lips, your cozy hugs, and the softness of your skin. But what I'm really interested in is your brain. I mean it.

domingo, 9 de dezembro de 2012

UNDER THE GROUND - UNDERGROUND


I guess I’ll never forget the day in which I saw you coming through that door on the subway.  We engaged a conversation because of one of your tattoos. I’ll never forget it. And in that very moment I thought about writing a story. There’s no way I could ever forget it.
We got to be friends. Do you still remember the way we used to profile people based on the books they were reading? I knew I was in love. I was truly in love. And then there was that day in which the sun happened to bright a little bit more than the usual, and we’ve kissed. That was the beginning of it. I still had the image of you coming through that very door. I was sure of something: That would kill me. I was going to suffer. A child could tell you were too much to me. I was not enough to entertain you for much longer. You were way too much to me.
Do you still remember how I used to take pictures of you? My pictures, my texts and my paintings were the reason for you to be interested in me in the first place. My artistic personality kept you from leaving me sooner.
But, as I said, I was doomed to suffer. I can still remember your hair’s smell and texture. And I keep trying to fall in love with the next girl who comes through that subway door.
I’ve failed to get over you. But what has really surprised me, is that you’ve cut your own wrists because you were unable to get over me. And I was baffled by that letter of yours. You could never find someone as talented as myself. You should’ve seen the way I blushed when I read what you had written. You said I was too much for you. Talk about tragedy!
Truth to be told, I couldn’t do better than you, as well as you couldn’t do better than me.
I still profile people through what they read, honey, but I’m no longer able to write, paint or take pictures. I was right, after all. I knew I would suffer after having tasted your lips. I just regret not having told you that. I hope you forgive me for not keeping the promise of not omitting information from you. I wonder whether you still remember how we’ve promised not to hide information, but allowed each other to lie as much as needed.
Have I told you that I hate your suicide note? Dear beloved, I still hate you, because I know I can’t do better than you. Your beauty depresses me, your intelligence is the closest thing I’ve known from perfection, and your sadness gave my life meaning. That’s why I hate you. You had no right to make me fall in love with your flaws. 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

An ego drop

“There’s no harm in trying” they told me. But that’s a lie. There’s a lot of harm in trying. But there’s also harm in not trying, to be honest with ya’ll. But that’s too much of a self-help talk. That makes me sick. I mean it. I kinda hate pep talk. No kidding. You have no idea of what kind of person I am. You’ve got no idea. Years have passed since the day I’ve decided to try and be polite. You know nothing ‘bout me. That’s part of the music though. And you’re charm in person. I figured I’m not making sense. That goddamn book got on my nerves. It does a lot of damage to my mind – or at least to my social life. But it’s not worse than you. You are actually the best definition of impact I’ve ever seen. Never would I have imagined such a mystery. But I can read your curves alright. Believe me. There ain’t no words to describe the mess we are living in, but I’m trying really hard, cuz you’ve hypnotized me, and made me believe that there’s no harm in trying.

domingo, 25 de novembro de 2012

Awk award


There was pride, and there was Love. There was music, and there was silence. Rhythm, swing, and stuckness. There was a lot going on. Reading, watching, and sleeping. There was fear, and there was disappointment. Tears, pain, and gibberish. There was mystery, after all.
But there was no return, and there was no satisfaction. There was no joy, and there was no understanding. No life, no color, and no movement. There was no logic. No coming, no going, and no breathing. There was no rain, and there was no prize. No eyedrops, no sequence, and no shame. There was no rule-following at all.
Do you realize that? That's rhythm! That’s balance, for chrissake! There is not enough money or beauty to buy the understanding. Do you realize that? That’s what I would call an award.

sábado, 24 de novembro de 2012

Sob o Efeito de Centeio


Quando Eric ouviu a porta sendo aberta, tentou, em vão, esconder o texto por ele mesmo escrito, na primeira página de seu caderno. Suas mãos cobriram as palavras, mas seu rosto o denunciou.
Nicole, ao perceber que Eric temia algo, baixou os olhos para as mãos do rapaz, e as viu pressionando o papel com mais força. Apertou os olhos, comprimiu os lábios, e puxou o caderno para si.
Ambos ofegavam. Tremendo, Nicole iniciou a leitura.

Fui vencido, meu caro amigo. Fui realmente vencido. Do céu ao inferno em cinco minutos. Aposto que não sabes do que falo. A vida é pútrida, caro amigo. Pútrida. Resta-me quebrar regras, dançar diferente ritmo, e fingir alegria. Do céu ao inferno em cinco minutos.
Companheiro, não há céu ou inferno, e, muita vez, o que aqui se faz, jamais se paga. Não deixes que o senso comum tome posse. Entrega-te a ti mesmo, e salve-me de mim. Sou um poço fundo.  Indigno daquelas senhoras. Sou um poço extremamente fundo.
Não tenho orgulho nenhum de coisa nenhuma. Quero conseguir desaparecer antes de atravessar a rua. Do céu ao inferno em cinco minutos. Constatação do óbvio, solidão, insegurança e ansiedade. Se ao menos fosse capaz de controlar-me...!
Não quero fingir indiferença, mas não sei como proceder.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Gunshot talk


Such a saltless talk, ain't it? 
But you gotta excuse my behavior. You oughta excuse my low self esteem. 'Thought we could work it out together.

(To the phone ringing) Just gimme a sec, will ya? I'm trying to solve a damn problem here.

(Back to her) That's right, I'm facing problems! And you being way out of my league is not helping out. This ain't no right, if you want to know. And I'm no crazy, 'K? That's what I got to tell ya. Now, if you care at all 'bout what's going on in here (pointing to his head) or here (pointing to his heart) I'll go on. But in case you don't, hells bells, just tell me cuz I won't breathe another word.
C'mon, you're up. The floor is yours. You got the mic.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Vincedor


Vincent estava encolhido ao canto de seu quarto, cabeça recostada na janela, e braços envolvendo as próprias pernas. Sua cabeça latejava. Olhou para as seis cicatrizes em seu pulso esquerdo. Eram marcas de sua não-aceitação. Durante vinte e cinco anos as pessoas o conseguiram convencer de que não era natural. “Mas que diabos!” – pensou – “consomem comidas artificiais todos os dias e me jogam esta história de não-natural.” Seis malditos cortes. Seis malditas tentativas de acabar com o sofrimento. Seis malditas vezes em que tentou arrancar de si mesmo o que o fizeram acreditar não ser natural. Agora era diferente. Dani estava em sua vida.
A sexta vez funcionou. “Imagino como teria sido se eu tivesse sangrado um pouco mais. Jamais teria conhecido Dani. Dani jamais me conheceria.” Queria acabar com sua vida, e conseguiu fazê-lo. Era o final de uma vida de auto-segregação. A partir deste dia, passou a lutar contra seus próprios preconceitos. Passou dias encerrado em seu quarto refletindo. “Para o Diabo com todas estas pessoas. Uma mentira contada por todo o mundo não constitui uma verdade.” No entanto, ainda reconhecia, com pesar, as mesmas dúvidas, os mesmos questionamentos, e os mesmos preconceitos que ele outrora tivera, nas cabeças de algumas pessoas. “Passei por isso, e com um pouco de sorte eles também superarão. Mas algo precisa ser feito.” - Cerrou os punhos e estufou o peito. - “A melhor maneira de mudar alguma coisa, é dar o exemplo. Não serei mártir algum, mas não mais partilharei do censo comum. Não mais veicularei o preconceito em meu discurso.” Sua cabeça ainda latejava. Olhou para as cicatrizes e apertou as mandíbulas. Sentiu o celular vibrando em seu bolso frontal direito. Enfiou a mão dentro do bolso em busca do aparelho, reconheceu o número, e sorriu largamente – “Daniel deve estar sentindo saudades”.

domingo, 11 de novembro de 2012

Diego & Ana



“Hoje pela manhã, me perguntei pela décima quarta vez por que é que ela não me queria. Perguntei-me qual era a razão da rejeição. Oras, pela décima quarta vez encontrei um novo motivo. Já somo dezoito sólidos motivos. Mas que droga! Deve haver suco gástrico em excesso dentro de mim. Meu estômago anda uma droga. Minha bile é altamente corrosiva. Sou pouco para ela. Ana merece um tanto mais. E essa droga de proximidade aumenta minha produção de suco gástrico. Talvez eu deva me afastar. Preciso fazer o que a nós seja conveniente. Depois desta manhã, tentei prometer a mim mesmo que eu faria algo para evitar aborrecê-la, mas não consegui finalizar a promessa. Cansei de mentir para mim mesmo. Preciso de mudança. Não sei por quanto tempo mais aguentarei. Talvez eu precise realmente me afastar.”

“Ontem o Diego me ajudou com um probleminha. Deus! Eu queria tanto que nós fossemos só amigos...! Mas ontem enquanto ele me ajudava, percebi que por duas vezes ele demorava demais com seus olhos em mim. Acho que ele está exagerando com essa coisa toda! Ele não tem motivos para isso. Ele é sempre muito legal comigo, mas já não sei se ele é uma pessoa legal de verdade, ou se só quer me impressionar. Queria muito que fossemos somente amigos! Às vezes, quando me lembro das coisas que ele me disse, bem, confesso que me sinto muito feliz. Ele me disse coisas que eu não esperava ouvir de ninguém. Na verdade ele me disse coisas tão boas sobre mim, que nem eu concordo. Mas ele é tão... Eu queria que ele tivesse uma namorada. Sinto-me horrível quando ele me trata muito bem, ou quando se esforça para me ajudar. Tenho a impressão de que o estou usando. Droga, Diego! Ele é tão bom para mim, mas... talvez eu deva me afastar.”

sábado, 27 de outubro de 2012

Por Tanto


Sinto-me diminuído. Que será isso? É justo sentir-me diminuído?  Não tenho o direto de tratar-me desta maneira, entretanto o faço. Digo, de frente para o espelho: “Não és digno daquelas ondas. Não és digno de ti mesmo.” E vós, caríssimos, não sois obrigados a ouvir esta ladainha. Sinto-me fatigado. Ouso dizer que fui tomado por forte febre. Pessoa alguma age assim senão em estado febril. Lembro-me de como quis abraçá-la quando percebi que estava em seu limite. Estou mesmo em estado febril, excelentíssimos. Lembro-me de como quis engolir seu desespero. Como achei-a atraente por não ter ideia das reais dimensões de sua figura. Posso mesmo dizer que eu sabia, somente ao olhá-la, que tinha pena de si mesma, mas que não deixava que isso viesse à sua boca. Que lindo orgulho tem! Mas por que digo isso, excelentes senhores?
Arrisco-me a dizer que tenho a temperatura muitíssimo elevada. Que fadiga! Preciso sentar-me. Não tenho mais forças para exclamar, no entanto... Senhora! Minha senhora! Que faz de sua vida?
Ouça, não é com orgulho que digo o que segue, porém... Não suporto ver-lhe as fotografias. Sou injusto comigo. Sinto-me diminuto. E poderia eu atribuir-lhe a culpa? Três negações para tal pergunta. Oras! Como posso poupar forças para exclamar quando ouso dizer tamanha infâmia? Ando com a cabeça em voltas. Não dê ouvidos a meu prejuízo, senhora.  Tampouco os senhores devem irritados quedar.  Sei bem que não é saudável desculpar-me tanto, entretanto...  Como sou pequeno! Sou pequenino, amiga! Perdoe-me a repentina aproximação. Arrependo-me de não tê-la tratado por senhora no presente parágrafo.
Com que autoridade posso eu jogar-me ao chão? Crê que não sei onde devo ficar? Mas não pode pensar que... Não! Vou evitar o uso de algumas conjunções. Todavia... como traio-me! Estando eu em tal estado, uso minhas últimas forças para exclamar! E as conjunções...
Talvez tenha sido duro em demasia. Sou uma mosca. Não sou homem, sou mosca. Valho tanto quanto a velha Lizavéta. Aliás, estou aqui na posição de velha usurária e de sua irmã. Sou ambos: Opressor e oprimido. E, no entanto, tenho eu autoridade para tratar-me assim? Oh! Esta febre precisa deixar-me em paz. Basta!
Oh! Que vertigem! Preciso recostar-me. Não sou digno desta febre. Serei eu digno de algo? Entendo a comparação a uma barata. Que genial! Porém... Serão os senhores mais dignos que eu? Que genial... Sofre menos aquele que não perceber que deve comparar-se a uma barata. E quem ousar comparar-se a ela... Mas sou um piolho! Oh! E quem foi mesmo quem disse que os grandes homens devem padecer com grande dor? Terá sido Raskólnikov em seu artigo? Não posso recordar-me em tal estado. Mas será que me considero grande homem? Ainda a pouco disse ser uma mosca. Um piolho! Minha cabeça anda às voltas. São suas fotos. Estou tão confuso...! Não há aqui uma gota de merecimento. Oh! Por que tinha eu de ser acometido de tão aguda febre? Entretanto... Não! Mas será que nem ao menos...? Acredito que não. Ainda assim... Basta! Não! Ainda tenho os sentidos muito fracos. Contudo, é preciso acreditar-me, caríssimo, boníssimo senhor: Não é mais digno que ela. Não vale um de seus dentes sequer. Que faz alguém dignar-se, enfim? Basta! Minha febre aumenta. Deixe-me. No entanto...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Quatro


Nesta manhã, acordei com a cabeça pesada. Sonhei contigo, sabias? Logo que abri os olhos, desejei voltar ao sono, pois sonhei contigo. Sonhei contigo e acordei sofrendo com forte vertigem. Estavas linda esta noite quando contigo sonhei. Entenda que não foi sem propósito que me vali da repetição. Quatro vezes – em um único parágrafo – disse que sonhei contigo porque tive – em uma única noite – quatro sonhos que te envolviam. Entendes isto?
Vi-te desde muito longe dentro de uma locadora. Imediatamente, e a passos largos, cruzei a rua e adentrei o estabelecimento a fim de observar-te com maior facilidade. Observei-te por um curto espaço de tempo. Vestias um lindo par de botas de cano baixo – destas que não se pode descrever com perfeição –, calças muito justas, de um tom azul, que nasciam dentro de suas botas e eram cobertas, já na altura de seus quadris, por uma camisa cinza. Trajavas, também, uma jaqueta preta, que acabava ainda no começo de tua cintura, permitindo, assim, que parte de tua camisa fosse vista. Teu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo pouco mais alto do que costumam as garotas usar, deixando, assim, teu pescoço à mostra. Seguravas com afinco um filme, o qual pude identificar depois de certo esforço: “Abre los ojos”. Ouvias música. Em tua cabeça um arco unia os dois fones de ouvido. Estavas linda. Observei-te por algum tempo, e quando finalmente me avistastes, o sonho acabou. Coisa estranha, não é? Não me lembro de outras vezes saber quando é que um sonho chegara ao fim.
Lembro-me, então, que estavas sentada a uma mesa daquelas de três pernas que nos dão a impressão de que, se pressionadas em certo local, cairão. Seguravas uma caneca com ambas as mãos, e a intervalos irregulares, bebericavas o que me pareceu ser chá. Só então percebi que nada maculava teu rosto. Fiquei encantado com tão pura beleza. Tive ganas de dizer-te o quão linda és. Estavas cabisbaixa e teu lábio inferior lançava-se à frente. Precipitei-me com a intenção de dizer-te que tua beleza me encantava, mas quando me aproximei, tu levantastes a cabeça e eu não pude agarrar-me ao sonho.
Avistei-te sentada em um banco na extremidade oposta à que eu estava, em um vagão de metrô. Carregavas um livro aberto entre as mãos, mas não pude identificar o título. Teus cabelos soltos invadiam-te a face, e estavas, uma vez mais, linda. Sentavas com os joelhos apoiados um contra o outro e com os pés num ângulo que muito me atrai: os calcanhares estavam separados – por quase um palmo de distância – e as pontas dos pés estavam encostadas. Vestias um par de tênis vermelhos. Se soubesses o quão linda estavas...! Jurei a mim mesmo, depois de dois segundos de reflexão, que talharia tua imagem em mármore. Naquela mesma posição que estavas. Senti o sangue subir-me à face. Estava determinado a ter contigo. Atravessei todo o vagão valendo-me de passos vacilantes. Aproximei-me de ti, mas a luz apagou-se, e quando voltou a acender, já não mais te via. Em verdade nada via. Desesperei-me por dez segundos, mas considerei, e, se não houvesse tua beleza para contemplar, mais me valia a cegueira.
Encontrei-te por diversas vezes ao longo da mesma noite, mas apesar de todos os meus esforços, não obtive sucesso em conseguir contemplar-te com um elogio. Como poderia, então, convencer-te de que... Arregalei os olhos. Dançavas alegremente à minha frente. Cinco metros nos separavam. Olhavas-me e eu não sumia. Nem tu sumias. Tinha a minha chance, afinal. Não consegui levantar a perna esquerda para dar o primeiro passo. Estavas linda. Lindíssima! Meus olhos encheram-se de lágrimas. Encantas-me! Lindíssima! Minha perna pesava 85 quilos. Não conseguia mover-me. Tu andavas, então. Foste sentar-te. Olhava-me com admiração. Cruzaste as pernas e puseste-te a admirar meu vão esforço para ter contigo. Desisti de tentar mover-me. Felizmente podia ainda admirá-la. Meu cérebro traiu-me, minha querida. Ao pensar nisto, também minhas pálpebras começaram a pesar, e, curiosamente, ao fechar os olhos, acordei.
Continuas linda, mas não pude ter contigo. Agora estou acordado e falo por meio de metáforas. Mas há neste mundo coisa com a qual não nos acostumemos? Estou bem acordado e nada, nem tua beleza, faz-me dormir. Nada, querida. Nada, nada, nada, nada.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Acúmulo


Querida, podes ler meu texto para não ter de ler minha mente. Não imaginas quão sombrio pode ser este lugar. Faz muito frio. Faz muito frio, e sou fraco demais.
Senti vontade de chorar, amigos. Sou fraco demais. Minha garganta comprimiu-se, e se tivesse de falar alguma coisa, a voz não sairia de outra maneira que não embargada. Sou fraco demais. Como pude me deixar tão vulnerável? Sou fraco demais. Não consigo agir naturalmente pois sou fraco em demasia, amigos. Digam-me o contrário, amigos. Por favor, digam-me o contrário. Não. Sei que sou fraco demais.
Afundei-te em álcool. Meu estômago continua ruim. Não sabes o esforço que tenho feito, mas meu estômago continua ruim. E faz frio. Sou fraco demais. Meu estômago continua ruim. Propus-me algo novo, sadio, confortável, mas... como faz frio!
Tenho sofrido com espasmos. Que será isso? Exagero no café? Exagero na solidão? Exagero nos pensamentos? Exagero na repetição? Amigos, faz muito frio, meu estômago continua ruim, sou fraco demais, e tenho sofrido com espasmos musculares.
Ouvi vinte e duas canções, li noventa páginas de um livro, bebi do café, senti náuseas, recordei-me da vontade de chorar e perdi a fome. Agasalhei-me. O frio continuou. Oh, querida! Bebi mais uma caneca de café. Péssimo para meu estômago, péssimo para meus espasmos, péssimo para minha vontade de você. Lembras-me café, sabias disto?
Tive vontade de chorar, passei frio, afoguei-te em álcool, esperei ansiosamente, senti-me fraco, vesti aquele par de calças velhas, e pus-me a recordar. Meu estômago continua ruim. Li dois poemas, escrevi duzentas e sessenta e oito palavras, engoli mais café, e continuei a passar frio.
Sê forte, querida. Sê forte por mim.
Fiz promessas que não poderia cumprir. Sou fraco, sofro do estômago, de solidão, de espasmos musculares, de frio e da tua falta.

domingo, 7 de outubro de 2012

Mendes às 22:55


Não recrimine, caríssimo senhor, as atitudes dos mais jovens. Não há problema algum em sofrer por amor, e ainda menos em preocupar-se com o final de semana. Oras! Não seria ótimo se não precisássemos nos preocupar com nada mais sério? Por que reprimir algo tão natural?
Acalme-se. Bem sei eu, que é preciso sofrimento para o esmero. Mas por vezes me pergunto para quê é que precisamos do esmero, - e certa vez cheguei próximo de conseguir a resposta, mas acabei por deixá-la escapar.
Coloque atenção em minhas palavras. Não digo que seja preciso apreciar todos os tipos de personalidade. Só é preciso respeitá-las.
O que quero dizer, excelência, é que não o compete policiar as preocupações de outro que não si mesmo. O “importante” é subjetivo. O ser humano é complexo em demasia, não é uniforme, por que, então, deveriam as prioridades o serem? É isso o que quero dizer-lhe. A diferença é inerente ao ser humano. É isso o que quero dizer-lhe, senhor.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

BC - e a dor estomacal


Bernardo caminhava com as mãos no fundo dos bolsos e com a cabeça ligeiramente inclinada para a direita. – Indício de que estava pensando. Estacou, arregalou os olhos, sentiu o estômago queimar e liberou um meio-sorriso. Era arriscado. Extremamente arriscado.
Ao final da tarde, o rapaz encontrou-se com Clarissa. Sentou-se à sua frente com seu costumeiro copo de café, sorriu, enfiou uma das mãos no bolso de seu casaco e sacou quatro tiras de pael. Era arriscado, mas ele preferia o risco à espera. Clarissa encarou-o com curiosidade.
“Há em cada uma destas tiras um futuro diferente,” explicou Bernardo, “e você vai decidi-lo na sorte.” Clarissa ainda não entendia exatamente o que estava acontecendo, mas teve medo. “A primeira tira carrega a palavra ‘jamais’ em sua face,” Clarissa estremeceu, “a segunda diz ‘não agora’ e a terceira tem a palavra ‘sim’ escrita. Vou te fazer uma pergunta, e a resposta será a que estiver no papel escolhido.”
Clarissa corou, olhou para o chão, sentiu o estômago aquecer-se e pela primeira vez naquela tarde, fez-se ouvir: “Mas eu vejo quatro tiras de papel, e você só me revelou o conteúdo de três delas.” O sorriso de Bernardo desmanchou-se. “Está em branco.”
Clarissa concordou com a cabeça, mas hesitou por falta de coragem. Puxou ar para dentro dos pulmões e quase desistiu. Mordeu os lábios e olhou para Bernardo. O rapaz estava desconsolado. Com uma voz muito tranqüila, Bernardo finalmente perguntou: “Dá-me um beijo?”
Em uma fração de segundo, Clarissa pensou que não arriscava o futuro, e sim o presente. Sem dar tempo ao cérebro, puxou para si um dos papéis e abriu-o ofegante.
Bernardo engoliu em seco. Clarissa nada dizia. Encarava o papel com obsessão tamanha que Bernardo não esperava nada positivo. Clarissa desviou os olhos do papel para encarar Bernardo, que, tentando descobrir a palavra escrita, baixou a cabeça para olhar o papel contra a luz.
Clarissa fechou a mão escondendo dentro dela o pedaço de papel. Bernardo assustou-se. Clarissa fez menção de entregar-lhe o papel e quando sentiu que sua mão estava suficientemente próxima aos outros três pedaços de papel, agiu rapidamente, misturando as tiras na palma de sua mão. Bernardo enrubesceu, e um segundo depois percebeu que Clarissa não havia obtido sucesso em recolher todas as tiras. Restava uma na mesa, a qual ele recolheu e abriu, lendo em voz alta a palavra “Sim”.
Clarissa estava mortificada. “Essa foi a coisa mais estúpida que alguém já fez!”

sábado, 29 de setembro de 2012

Raiz aqui presente


Rabisquei um pedaço de papel com impressionante rapidez, rasurei-o, dei razão às minhas palavras e, radiante, descobri a raiz de toda a ideia – perceba bem, querida, que era possível ter usado cerne em vez de raiz.
Rádio ligado, raiar do sol iminente, rastro de bebida em meu copo e de seu sorriso em minha mente. Tentativas frustradas, orgulho rachado, e rapaz abalado em razão de tão enraizado interesse. Raptastes meus pensamentos. Nem Raskólnikov rastejou tanto. Sou um ser humano mui raso, e admito minha desvantagem ao competir com razoáveis rapazes, mais racionais e mais belos que eu. Fui barrado, e ainda assim, sinto-me amarrado. E este desejo tão profundamente arraigado não anda senão arrastado pelos quatro cantos de meu corpo.
Quê dizer de seu radiante sorriso? Sem prolongar-se por demais, raptou minha atenção, arrastando-a para lugares diversos. Ponderei se uma última tentativa a faria ralhar. Agarrar a chance e me permitir errar, para no futuro narrar a ausência do arrependimento.
Deixar jorrar a cobiça, não temer a premissa e dizer-te que me atiças a mente.
Perceba, querida, que “cobiça”, “premissa” e “atiças” tem um jogo de grande malícia no que possuem em comum. E volto a mencionar a raiz. Raiz assim, se lida com rapidez, não pode estar mais explícita.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Derrória


Hoje me pus a pensar em como há pessoas que não admitem uma derrota. Vejam bem, amigos, que o assunto é de extrema complexidade para mim, posto que sou um ser que não se pode conformar com a vitória.
Oh! Que graça há na vida sem derrotas? Não será ainda por isso que o homem dá mais valor ao que dificilmente se consegue? Sim, não há outra explicação plausível. O mais difícil resulta em número muito maior de tentativas frustradas, oras! E quê dizer de amores platônicos? Sim! São deliciosos! E só o são porque não passam de uma derrota. Resta, aos que conseguem alcançar seus objetivos, conformarem-se com o fato de que não foi possível alcançar o objetivo real, que era a derrota.
Infeliz de quem é feliz demais. Amigo, dize-me então por que é que pessoas infelizes e derrotadas tendem a sentir pena de vitoriosos! Ora! Não me podes dizer que é pura amargura!
Oh, amigos! Dizei-me que não fui capaz de convencê-los! Eu não poderia suportar a frustração de não me haver frustrado com tal tentativa. Sê complacente e não seja complacente para não ferir-me, com a mais pura intenção de ferir-me.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Imag(in)e


Doug felt really bad all of a sudden. His head was really heavy and he almost fell down.  He was going to faint and he was going to vomit, but with some effort he was able to hold it. He knew what the problem was: Cathy had appeared again.
Cathy was not real, but she existed in his world. Doug felt like crying. Things did not make sense. He became very pale, and despite of his very strong effort, his eyes watered.
Cathy smiled at him at first, but her smile soon turned into a loud laughter, and Doug was quite sure that everybody could hear his imaginary friend. He tried to shut her up, but she was too strong. When he looked into her blue eyes, he could not resist. In that very moment, he was baffled by the power of his mind. “How”, he would ask himself, “how is it possible to create something and get amazed by it?” He felt extremely creative. Sick and creative. His stomach got worse, and to avoid the throwing up, he knelt and folded his abdomen.
People were already staring at him, but some started laughing. At this point, Doug was not ashamed. He continued to feel impressed and he became even more afraid.
The more he tried to get up, the more he felt sick. The waiter ran to meet and help him to get up. By the time he got back on his feet, he looked around and noticed that his books were still resting on his bed, and there were no people, waiter, tables, or even a bar. No blue eyes. There was cold, though. There was cold and sickness.

domingo, 23 de setembro de 2012

D E S (e a quebra de barreiras)


Vincent acordou, mas não abriu os olhos. Ficou parado na mesma posição por aproximadamente dez minutos, e então, ainda deitado na cama, abriu os braços e esticou as pernas para espantar a preguiça. Seu braço direito bateu em algo que, ao sentir a pancada, moveu-se. Vincent abriu os olhos e virou o pescoço. Sentiu um súbito calor no estômago e não conteve um pequeno sorriso. Estava feliz, mas tinha vontade de chorar. Não pôde mover-se por outros dez minutos. Não sabia que sentimento era aquele, mas era algo inusitado. Passados os intermináveis dez minutos, levantou-se muito cuidadosamente, contornou a cama, sentou-se de frente para o corpo que em sua cama descansava, e pôs-se a observá-lo. Sentia um misto de sentimentos. Jamais enfrentara tantas sensações em tão curto espaço de tempo.
A princípio pensou estar fazendo algo errado, não-natural. Desviou o olhar daquele rosto imaculado e encarou as paredes. Buscou desesperadamente por uma distração. Tentou descobrir de onde viera aquele pequeno buraco na parede, tentou lembrar-se qual fora a última passagem de “Fausto” que lera, tentou confirmar quais eram as coisas que precisava incluir na lista de compras, mas nada disso o impediu de lembrar-se da noite anterior. Vincent forçava as mandíbulas e repudiava suas próprias ações. Dois minutos mais tarde, desejou volver àquela noite e reviver as emoções. Levantou-se, foi até a janela de seu quarto e calculou a distância entre janela e calçada. Aproximadamente três metros e meio.
Voltou o olhar para o corpo desnudo, e desconfiou de sua própria desaprovação. O descoberto corpo que despojava-se de preocupações voltou a atraí-lo. Desconcertado, Vincent julgou desprezível e desdenhou de seu despreparo para lidar (tão desesperadamente!) com a situação. Nada havia de errado com o corpo de Deodoro, presente de Zeus.
Vincent precisava enfrentar seus preconceitos, e estava disposto a fazê-lo. Aproximou-se de Deodoro, beijou-lhe a testa, o nariz e os lábios, mostrou-lhe um sorriso e muito afeto. Voltou a contornar a cama e deitou-se, agora pouco menos preocupado.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

C O M


Há tempos não me arrancam tantos sorrisos em um só dia. E falo de sorrisos, não de risos, cara senhora. Entende a gravidade do assunto? É extremamente difícil fingir um sorriso. E lhe garanto que meus sorrisos são da mais pura e espontânea natureza, senhora.
Senti falta de sentir-me assim.
Meu cérebro a descreve tantas vezes que em dado momento me olvido da cor real de seus olhos.
Tem grande influência sobre minha pessoa, prova disto foi a noite de nossa conversa. Tive certa dificuldade para dormir. Uma vez adormecido, no entanto, e foi pura calmaria. Consegui a mais bela noite de sono.
A senhora é uma grande figura, e já figura entre as mais importantes de minha vida. Foi a descoberta do mês. A descoberta do ano!
Devo-lhe prévias desculpas pelos próximos parágrafos. Não consegui evitar uma nova descrição. Sei bem que conhece a si própria, mas precisa enxergar-se como eu a enxergo.
Seus dedos, cara senhora, são alongados, frágeis e de fina beleza.  Ornamentados por lindas unhas que pertencem tanto a seus dedos quanto à minha carne. Os afortunados anéis que carregam alguns de seus dedos são de igual beleza. Escolhidos a dedo, se assim me permite dizer.
Poucas vezes vi braços tão graciosos. São frágeis, a exemplo de seus dedos, e não poderiam terminar em melhores ombros. Gosto de como encolhem-se, como se sua dona padecesse com agudo frio. O esplendor de seu tronco é incomum. Abençoado tronco que conecta-se a membros superiores e inferiores – que, em realidade, não são de maneira alguma inferiores ao restante de seu corpo. São, ao contrário disso, membros que completam, conversam, compactuam e compartilham de sua beleza, o que consolida o conceito de belo com comiseração tamanha, que deixa comovido tão comedido compositor.
Seu pescoço, querida senhora, não poderia receber elogios em excesso! Que lindo amparo para face tão angelical! Mas me reservarei o direito de não descrever-lhe os olhos, boca, nariz, sorriso, cabelos e orelhas. O sofrimento é suficientemente grande sem que o faça.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Colagem - Holden's rebirth


The reason I’m here and all is to tell you a little bit about this girl. She is this very beautiful girl who’s so goddam beautiful that can get you depressed as hell. I mean it. Really. She has this goddam pretty eyes, for chrissake! It kills me! It really does. And the way she speaks and all, boy, was I in love. I started to think that I should give her a buzz and all, but it kinda made me feel a little depressed. You know, you take this very cute girl and ask her to go out with you and all, you give her the look and you really try and everything, but they are too goddam beautiful. It just can’t work out. Then I figured what I’d do, I would call her and all, ask her to marry me all of a sudden and then just say it was a lie. Just for the hell of it. But when I came close to make that call I gave up. I guess I just didn’t feel like doing it. You have to be in the mood to do something like this, for God’s sake. But she did have a helluva pretty face. Christ was she cute!
Anyway, I started thinking about the way she laughed and all, it was sort of a choke but in a cute way. You oughta see her laughing some time. It’ll kill you.
Goddam Christ! I don't seem to stop writing this way and all.
So I decided to go on with that. Just for the hell of it;
Sometimes I'm a madman. I really am. No kidding. I'm a goddam madman, for chrissake. That's what I am.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

I'm awfully sorry - Holden has taken control


We don’t have much to talk, but I swear to God I desire you. You grow more and more interesting each and every day. You kill me. You really do. Chrissake you’re beautiful! And I’m pretty sure I’m gonna kiss your goddam lips. You have a hell of a smile, you know that? And it feels nice having a crush on you, it makes me feel more like a human being and all. You oughta believe me when I say you got a heluva smile. Goddam girls. They can ruin you. I’m not kidding.
You’re too damn good, for chrissake!

sábado, 8 de setembro de 2012

Lack of sense


Karen estava exausta. Arfava e caminhava com o tronco arqueado. Deu mais cinco passos e apoiou as mãos nos joelhos para descansar. Olhou para trás e avistou Plínio, um rapaz muito jovem de cabelos louros e pele mui alva. Tão alva que, muito frequentemente, chegava à vermelhidão. Plínio acenou e sorriu, e Karen respondeu com os mesmos gestos.
Ela preocupou-se: ele não parecia cansado. Dentro de pouco mais de dois minutos ele a alcançaria. Tirou forças sabe-se lá de onde e voltou a andar, agora um pouco mais rapidamente. O estômago queimava, suplicando por um pedaço de pão ou uma fruta. A garganta estava seca e o frio castigava sua pele.
Pensou ter ouvido um barulho à sua frente, então apurou os ouvidos numa tentativa de capturar algum ruído além daquele produzido pelo atrito de seus pés contra o asfalto. Sim, definitivamente ouvia alguma coisa. Olhou para trás para perguntar a Plínio se ele também ouvia o barulho, mas não havia ninguém atrás dela. Que decepção! Seu inimigo imaginário não a perseguia justo agora que queria perguntar-lhe algo! Tentou chamá-lo pelo nome mas sua voz não saiu. Havia já muito tempo desde a última vez que usara as cordas vocais, e por isso a voz não aparecia.
Esticou o pescoço e subiu às pontas dos dedos para tentar capturar com os olhos a origem dos ruídos, mas não obteve sucesso.
Caminhou em silêncio e foi percebendo o ruído ficar gradualmente mais alto. Entrava deliciosamente em seus ouvidos e a deixava feliz. Seus pés doíam, mas não podia parar de caminhar.
Depois de certo tempo, passou a se questionar se havia de fato algum sonido sendo capturado por seus ouvidos, ou se era enganada por seu cérebro. Caiu de joelhos. As pernas já não respondiam aos comandos enviados pelo cérebro. Pensou em arrastar-se, mas descartou a ideia ao perceber o quão arranhados já estavam seus joelhos.
Era hora de descansar, talvez de desistir. Deitou as costas no asfalto, esticou as pernas e abriu os braços. Uma de suas mãos – a direita – recostou em algo macio. Karen virou o pescoço muito vagarosamente para encontrar um pequeno camundongo. O animal estava morto e tinha apenas três pernas. Ela sentiu o estômago roncar sugerindo a ingestão do roedor que ela agora segurava com as pontas dos dedos. Sua aversão àquele ser foi grande mas passageira. Precisava alimentar-se. Quais seriam as conseqüências caso ela comesse o ratinho? E se nada comesse? Será que a ingestão seria pior que a falta de alimentação? Ela precisava comer algo. Talvez suas pernas até voltassem a funcionar bem! Considerou tudo isso e decidiu comê-lo. Mas como proceder?
Foi uma cena teatral: Karen tinha as unhas um bocado grandes, e as usou para rasgar a carcaça do camundongo. Um líquido começou a vazar e seu estômago ficou estranho. Ela não sabia dizer se era ânsia ou fome. Apertou o animal com uma só mão, fazendo com que o líquido escapasse do pequeno corpo e parasse em sua outra mão, e de lá fosse encaminhado à sua boca. Em seguida, torceu a cabeça do bicho e a girou até que ela fosse separada do pequeno corpo. Abriu o corpo e comeu o conteúdo deixando de lado a carcaça com os pêlos. Seu estômago parecia ter despertado, e queria mais alimento. Ela virou a pele do animal ao avesso e passou os dentes para conseguir arrancar a maior quantidade possível de carne. Ainda estava com muita fome. Olhou com repulsa para a cabeça do ratinho e guardou-a no bolso esquerdo. Tinha de racionar a comida.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Onze dias de paixão


Na terça-feira da semana passada, me apaixonei por teu nariz, na quarta-feira, por teu sorriso, um dia depois, fui hipnotizado por tua voz, e na sexta-feira fiquei impressionado com tua roupa, em espacial tua jaqueta. 
No sábado não pude deixar de lembrar e apaixonar-me por teu jeito, no domingo reforcei o sentimento usando tua ausência. Na segunda-feira desta semana, desejei teus cabelos, na terça-feira comemorei o aniversário de uma semana de encanto, me apaixonando por tua estatura. Na quarta-feira me reservei o direito de apaixonar-me por tuas mãos, e na quinta-feira me encantei com teu queixo. Hoje é sexta-feira, e te desejo por completo. Quero apaixonar-me por teus lábios e sentir o calor de teu abraço. Quero colocar tua franja atrás de tuas lindas orelhas, te beijar o nariz, a testa, os lábios e novamente o nariz. Quero passar minhas mãos maliciosamente por teu corpo e senti-lo eriçar. Quero morder-te o braço e sentir tua respiração.
Deitei meus olhos em você, e, querida, não os quero levantar.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Per fur ação



Era um sobrado. No térreo havia uma farmácia e uma loja de roupas, e no andar de cima havia uma casa com um enorme terraço onde diversas festas aconteciam. Festas um tanto curiosas. Os convidados ficavam todos lá em cima, de costas para a avenida, que para eles parecia nem existir.
Festejavam como se estivessem em local mui isolado. Quiçá à beira mar. Ignoravam a existência do restante do mundo.
Felizes e tolos, eles eram. Mais tolos que felizes.
Uma bala transpassa ambas as realidades. Atravessa mar, avenida, fantasia, e pára no terraço. Sangue, gritos e lágrimas. A felicidade foi-se embora, mas a tolice lá continuou.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Com açucar

Gosto de sua roupa, seu jeito, seu sorriso e da cor de seus cabelos. Não tive grande contato contigo, mas não farei objeção alguma a meu coração se por você ele quiser nutrir sentimentos, porque a dor da paixão, minha querida, foi a mais deliciosa dor que já senti.

domingo, 19 de agosto de 2012

Scrambled maen


I’m not quite sure of what I want, Doc. I must be the most screwed up human being in this whole damn world. I try to get people’s approval by saying that I don’t need their approval. How the fuck am I gonna get to be happy thinking and acting like this?

Look, all I’m saying is that I have the most fucking ranging humor ever. In fact, sometimes it doesn’t even range. I sometimes feel both happy and sad at the same damn time! Now how’s that even possible? I know that human beings are complicated as hell, but you ain’t gonna say that I’m not different and this kind of stuff happens to everyone, are ya?

See, I’m not trying to look different, I’m just looking for some relief, OK? So you can please just cut the crap and get straight to the point, will you?
Doc, I’m willing to do drugs, go through treatments, take medicine, alternative medicine, anything! You name it, I do it.

I’m looking forward to hearing from you.

Yours,
Daudore.

sábado, 4 de agosto de 2012

Psyc


“Recobrei a consciência mas não mexi uma pálpebra sequer. Senti alguém lamber-me as bochechas, e apertei os olhos. Lembro-me vividamente do desespero que senti. Abri e fechei as mãos vagarosamente. Meus músculos doíam. Não conseguia mexer nada além das mãos, olhos e boca. Meu corpo estava muito pesado. Senti algo me invadindo a boca, algo um tanto flácido e de estranha textura. Com toda a força que pude juntar, forcei as mandíbulas e ouvi um urro de dor. Um líquido sabor ferrugem me encheu a boca, e instantaneamente abri os olhos para descobrir um leão saltando de lado a lado, rugindo para o céu.”

“Este foi seu sonho, senhor Mendes?“ – Perguntou a doutora enquanto ajeitava seu par de óculos.

“Sim, este foi meu sonho.” – Ricardo riu-se por dentro. Que belo mentiroso era.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Mendes, Ricardo. Setembro de 2011.


Caros amigos, alguns de vocês já sabem de minha história. Sou eu, Ricardo. Alguns me chamam de Mendes. Em verdade, só me chamam assim nas clínicas psiquiátricas que frequento. É por culpa dos doutores e doutoras de tais clínicas que estou aqui escrevendo. Recomendaram-me que usasse uma espécie de diário para aliviar todas essas coisas que acontecem em minha cabeça ou em minha vida. Me disseram que estou um tanto doente, mas que posso me curar.


O que lhes conto hoje é que, na noite passada, fui parar num motel barato depois de muita vodka – lembrei-me de Camila, amigos. 
A garota que me acompanhava estava tão alcoolizada quanto eu. Tinha olhos castanho-escuros, cabelos vermelhos, pele clara e chamava-se Karen. Era um tanto atraente, amigos. Perguntei-me mentalmente como é que eu acabava com pessoas mais atraentes que eu, deitadas ao meu lado em uma cama de motel.
Beijei-lhe o pescoço, o colo, os seios, e tivemos trinta e cinco minutos agradáveis. Se quiseres, dê asas à vossa imaginação. Não entrarei em detalhes. Fato curioso foi encontrar-me desesperado para sair dali.
Apesar de ser um motel um tanto barato, havia uma banheira no local, a qual enchemos, entramos, e onde ficamos conversando. Ela acendeu um cigarro de cravo e ficou criticando minhas pernas cruzadas dentro da banheira. Calculei quantas horas dormiria para acordar já na hora de deixar o motel. Estava inquieto e mal conseguia disfarçar.
Karen começou alguns assuntos algumas vezes, mas eu estava distante. Vou-lhes ser sincero esperando que nenhum julgamento seja a mim direcionado: eu estava envolvido com outra pessoa. Acho que sentia uma dose de culpa ao pensar nela. Karen falou sobre morte, e eu tive vontade de largá-la na banheira. Não tentei disfarçar e fui deitar-me. Não dormi mais que uma hora, minha senhora. Acordei e liguei a tevê. As horas arrastaram-se. Desejei ter um bom livro ou muito álcool.
Amigos, tomei a decisão mais improvável. Adiantei meu relógio e o celular da Karen em duas horas. Não conseguiria aguentar por muito mais tempo. Acordei-a e disse que precisávamos ir embora.
Levantamo-nos e saímos do quarto, passamos pela recepção e chegamos à rua. Meus pensamentos ainda chegavam à Millie. Millie, caro leitor, é o nome da garota com a qual eu me encontrava envolvido. Disse à Karen que eu precisava correr pra casa de um amigo e pegar uma coisa que tinha esquecido. Ela não acreditou muito, mas não me importei com isso. Duas horas mais tarde recebi uma mensagem da Karen, que me perguntava se eu me encontraria com a outra. Senti enorme arrependimento por ter passado a noite a seu lado.

Querido leitor, se já me julgastes por ter passado a noite com Karen estando envolvido com Millie, sugiro que encerre por aqui a leitura. 

Seis horas mais tarde eu estava abraçado com Millie, e, caro amigo leitor, ela era impossível de segurar. Jantamos juntos, conversamos, rimos, e, ainda assim, eu não sentia-me atraído por ela. Ela usava a droga da língua demais, e por isso eu tinha de me esquivar pra não ser atingido nos ombros,  pescoço, queixo e bochechas - era uma cena um tanto ridícula, e acredito que algum possível espectador estava rindo-se ao assisti-la. Tive a mesma vontade desesperada de voltar para casa, mas não foi o que fiz.
Querido leitor romântico, se até agora não encerrastes a leitura, mereces sofrer com o desfecho desta história, e não darei conta dos detalhes para assim adiantar ambos: final da história, e teu espanto. Dormi com Millie no mesmo motel que acordei com Karen. Pedi o mesmo quarto, e enchi a mesma banheira.

Não escreverei nem mais um parágrafo, leitor querido. Ouvi um barulho vindo do outro lado do quarto: acho que Millie está despertando.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Divagarei um bocado, amigos. Por favor, sejam pacientes



Sinto enorme agonia neste momento. Tenho andado pouco deprimido. Quase posso dizer que há uma ponta de felicidade em mim. O problema é que sempre me lembro de que o que estou fazendo vai contra o que acredito. Mil perdões. Eu lhe devo mil perdões. Não mereço teu braço, teus lábios e teu colo. Tentei te avisar, mas sou fraco por demais.

Se ao menos você soubesse o quão pouco te mereço... Sou um ser humano detestável. Tenho plena noção de meus atos, o que me torna ainda mais detestável. Não lhe mereço, minha senhora.

És demasiado pura para envolver-se com tamanho problema. É exatamente o que sou: um problema. Os livros que li, as canções que escutei, as pessoas com as quais convivi, os filmes que assisti e ainda um par de outras coisas, me tornaram o que sou: um ser totalmente desajustado a esta sociedade. E não me julgo errado, cara senhora. Mas meu julgamento é um tanto diferente do seu. Não te mereço.

E não te devo explicações, te devo liberdade. Te arranco a liberdade com a língua. Sou um ser humano deplorável.

E oitenta pessoas me tentam salvar. Pobres diabos. Não entendem que não se pode impor a droga da salvação à pessoa alguma. Não quero ser salvo, quero distância de seus ideais e tenho pavor de me tornar alguém que seja até mesmo suavemente parecido com vocês. Eu vos odeio, salvadores.  Prometo pedir ajuda se um dia desejar me render à vossa podridão, mas, enquanto isso, não me salvem.

E não aceito vossos julgamentos, meus senhores. Não os aceito pelo simples fato de vivermos em diferentes mundos mesmo que dentro da mesma sociedade. Podes pensar o que quiser sobre quem quiser, assim como posso pensar o que quiser sobre seu pensamento. A liberdade muito me ensinou. 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Palavras sobre o á...


Tentar descrever tão singular sensação é um tanto complexo. 
Sente-se certa queimação no estômago e torpor tremendo. Por vezes a felicidade é momentânea. Esquecemo-nos de coisas mais sérias e mudamos nossas prioridades. A felicidade é momentânea, mas sublime. O estômago é, de fato, um espetáculo à parte e merece, também, a repetição: um mix de queimação com um delicioso balanço. 
Vez ou outra há um sorriso bobo estampado em nossos rostos. Nossas atitudes mudam e perdemos uma dose de cautela. Ficamos avoados. Por vezes divagamos e ainda outras vezes temos o pensamento fixo em um único alvo. Às vezes cantamos e agimos feito tolos.

Engana-se quem acha que o assunto é puro. Exatamente o tipo de destruição pela qual tenho procurado.

domingo, 1 de julho de 2012

Sobre a Libertação Animal


Tatiane, dona de 16 anos, estava sentada numa mureta mirando as gaiolas vazias que foram outrora habitadas por infelizes galinhas.
Tati, como era chamada por todos, era vegana desde seus onze anos, e se encontrava agora em meio a um impasse: as gaiolas vazias a deixavam feliz, mas a causa do vazio das gaiolas era o falecimento de seu tio, que além das galinhas criara também porcos e bois para o abate. O falecimento de Roberto, seu tio, a entristecia, e eis o impasse.
Deveria ela contentar-se com a morte de alguém por este fato resultar no fim do sofrimento de outrem? E principalmente quando este alguém fora um ente querido?
O calor a todos castigava. Os rapazes não vestiam camisetas e as garotas usavam biquínis, com exceção de Tati, que trajava um belo e leve vestido.
A lembrança da morte de seu tio a angustiava, mas também a recordação das galinhas que mal conseguiam virar-se a chateavam. Assim é a vida: a criação de um problema resolve três outros, enquanto a solução de um problema é a causa de outros oito.
Ainda que a morte de seu tio fosse ofuscada ou justificada pela liberdade de outros animais, deveria Tati comemorar? Não estariam outros cinco criadores de animais nascendo neste exato momento? E ainda que não, com tanta luta pelo dinheiro, não seria possível dizer que as empresas aumentariam a produção, compensando a morte de qualquer pobre diabo que criara animais para transformá-los em comida, para assim suprir a demanda? Não há porque comemorar a morte de um opressor se para ele houver um substituto.
Cada pessoa que comprava e comia um bife era um opressor. Se não era o assassino, era o mandante do crime. Julgue qual o pior. E há toda a sorte de desculpas: Alguns usam outros animais como apoio, “mas o leão come carne!”. E ele também dorme em qualquer lugar – não em uma cama confortável – e não se importa com o dinheiro. Não vejo muitas pessoas seguindo seus passos neste sentido.
“Temos a capacidade de organizar as ideias e pensar de forma lógica, diferente deles. Que estúpida comparação!” Todos que estavam à sua volta a olharam, alguns viraram-se para encará-la e outros, esses mais discretos, a olharam com os cantos de seus olhos. Tati estava perdida em meio a seus pensamentos e nem havia percebido que falava em voz alta. Ela sorriu e levantou os ombros como quem perguntava “Quê posso fazer?”
De volta a seus devaneios, Tati imaginou outra desculpa: “É a cadeia alimentar”. Mas o que diabos isso deveria significar? Se o mais forte deve sobreviver, deveriam os homens mais franzinos serem devorados por brutamontes?
Outros diziam que a carne era demasiado gostosa. Ora, quando alguém mata um ser humano por prazer não pode usar tal desculpa para não ir pra cadeia!
Há pessoas que se apóiam no comodismo e dizem: “Mas é muito difícil repor as vitaminas!” o que é uma grande mentira. Nada garante que uma pessoa que tenha a carne inclusa em sua dieta seja mais saudável que um vegetariano. Além disso, ainda que fosse muito trabalhoso repor as vitaminas... Bem, posso roubar um açougue ao invés de trabalhar e conseguir o dinheiro pra comprar a carne? É um tanto mais fácil! Então roubar alguém para melhorar e facilitar a minha alimentação não é certo, mas não há problema algum em tirar uma vida com o mesmo propósito?


Continua... 

domingo, 10 de junho de 2012

A mentira


Me dei cinco minutos para ser criativo e arquitetar um conto. Bem, lhes conto que acordei quarenta e cinco minutos depois sem ideia alguma e com descomunal preguiça.

Resolvi, então, abandonar a ideia inicial. Chega de contos de trinta minutos, chega de impressionar ninguém e chega de querer comparar nossas literaturas. Aliás, há tempos não a faço com sinceridade. Tenho medo de parecer com poetas que muito odeio.

Hoje não falo de seu corpo bem feito e tampouco de pensamentos do tal Ricardo Mendes. Hoje não existe Tainá sequer em nossos pensamentos. Nem Camila e nem Donald. Hoje a escrita é sobre nada. Não há eu lírico feminino e tampouco culto à tua boca.
Abandonei minhas musas, minhas semideusas, recusei o abraço de seu cérebro e de seus braços bem lapidados. Reverenciei a acentuação, tropecei na língua estrangeira, e mantive uma conversa com ninguém mais que ninguém.

Pisquei à loucura, convidei-a, escondi o sentido e não quero me recordar do esconderijo. Menti outra vez e fingi a verdade - compulsão deliciosa - e o fiz pensando em tua boca e em teu corpo bem feito. Abandonei a escrita, creditei tudo à insônia e ainda assim deixei o sentido de fora. Não há porquê. Quiçá Dadaísmo. Queria mesmo é que fosse feito com minhas iniciais. Me contentei com o que não criei e menti novamente. Mas juro que não há porquê explícito. Nada além de uma tentativa de impressionar o que não conheço.

(Deixar gravado o que não é)

Te desejo uma boa noite e ainda mais que isso: te desejo. Furei o objetivo principal pra fechar o texto. Mais uma mentira que você terá de perdoar. Enganado estás se acreditou no papo de metalinguística.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Menos ácido


Adoro tua magreza. Aliás, adoro nossa magreza. Tuas pernas cruzadas são extremamente atraentes. Tens ideia deste fato?
Gosto de teus olhos com essa sombra e de teus dentes quadradinhos. Gosto de teu sorriso realçando as maçãs de teu rosto. Gosto de teus cabelos esvoaçando. Gosto deles bagunçados, do cheiro que deixam em meu ar, de tua voz, do quentinho que deixas em meu peito, e... Será que tens ideia deste fato?
Gosto de teus pensamentos, gosto novamente de tua voz, daquela tua blusa vermelha que você puxa as mangas fazendo-as cobrir tuas tão bem feitinhas mãozinhas, e gosto muito dos nós de teus dedos. Gosto de tua arte, de teus pratos pintados, de teus copos azuis, de teu jeito tímido, de teu corpo envolto em nada além de meu casaco, e gosto de como tocas o trompete.
Gosto de como falas, de com andas, de teu nariz e de teu pescoço. Gosto de teus CDs e de te ouvir cantando. Gosto de teu sorriso, e amo saber que não tens ideia deste fato. Gosto de saber que não gostas de que os outros saibam o que passa em tua cabeça. És uma semideusa, e constantemente me pergunto: Será que tens ideia deste fato?

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Érica Paciente

Invadiu seu espaço por diversas vezes. Fingiu não perceber nada, fez de conta, acalmou-se, mas agora não era mais possível. Roubou-lhe dois amigos, tentou roubar-lhe outro mais, e não obteve sucesso. Obteve, aliás, resultado contrário: Possuía agora dois inimigos.
Érica cerrava os punhos ao pensar em Yago. Era uma parte de seu passado da qual odiava lembrar. Érica amava o passado, mas Yago era uma exceção. Odiava-o com todas as suas forças. Ele agora fazia novas investidas contra seu presente. Tentava aparecer em suas fotografias e roubar novos e velhos amigos.  E a irritava profundamente. Crescia seu ódio, seu punho cerrava mais, suas mandíbulas rangiam, seu peito ficava pesado, soltava três palavras e um riso de escárnio. O nome de Yago soava em seus ouvidos como gritos desesperados de crianças. A coisa que ela mais odiava.

domingo, 27 de maio de 2012

Eyes wide shut


Era uma bela cena. O pecado mais pecaminoso.
A su derecha ocho cuerpos llenos con amor y sudor. Besos y abrazos.
On his right he could see a very similar scene, except that there were lots of wet bodies.
À sua frente estava a fonte da bela voz que ouvia. A perversidade recheando uma face angelical. Aproximou-se muito rapidamente. Ela estava sentada à beira do que parecia ser um palco. Um palco suficientemente alto para que os olhos de ambos ficassem à mesma altura. Olhou-a por 5 segundos, deitou as mãos em suas coxas e percebeu certo tremor na voz antes perfeita, aveludada, imaculada. Sentiu os poros fechando-se.
Beijou-lhe o pescoço e o lóbulo da orelha. Sentiu as pernas dela prendendo-lhe com força. Mordeu-lhe os lábios com extremo cuidado, pediu sua língua e sentiu o corpo da linda Marcela enrijecer e a respiração ficar mais curta.

O restante não me compete contar. De olhos bem fechados, você saberá o que ocorreu, não é mesmo, Kubrick?

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Memorável solidão?


Depois de trinta e nove minutos na sala de espera lendo uma revista que há dois anos fora lançada, seu nome foi chamado - “Ricardo Mendes.”
Levantou-se calmamente e dirigiu-se à pequena sala. Quando passou pela recepcionista, acenou levemente com a cabeça. Era linda. Linda demais.
Tinha toda a mentira arquitetada. “Que estupidez”, pensou Ricardo consigo mesmo, “acabo de pagar noventa reais para poder contar mentiras.”
Meteu-se porta adentro, e dois passos depois, parou para encarar a dona dos olhos que o analisariam. Excessivamente bonita.
“Isto não é certo, caro leitor. O julgamento não é justo tendo à minha frente um ser tão superior.”
Não abriu a boca. Olhou para a poltrona vazia à sua frente. Sua juíza concordou com os olhos e ainda abriu um meio-sorriso. Ricardo sentou-se, abaixou a cabeça, pousou a mão na testa e apertou os olhos em sinal de desespero. Sua representação durou cinco segundos. Quando levantou a cabeça, a mulher que era loira há alguns segundos agora estava morena. Seus olhos, antes castanhos, eram de um verde estonteante.
Apertou os olhos uma vez mais, balançou a cabeça e com as mãos tremendo, arriscou um novo olhar. Não era possível. Enlouquecera. Sentiu-se impelido a beijar-lhe as bochechas. Cerrou os olhos e forçou a mandíbula. Sentiu o peito comprimido. Tentou falar mas não conseguiu abrir a boca. Sentiu o amargo do sangue misturando-se à saliva. Limpou a testa com as costas das mãos.
Uma forte brisa invadiu a sala e Ricardo sentiu-se incomodado. Procurou uma janela aberta e não achou. De onde viera a brisa? Engoliu um pouco do sangue e tentou reclamar com a doutora que já então não era loira e tampouco morena. Era agora uma Dona ruiva com lindas sardas. Palavras não saíram.
Pensou em levantar-se mas desistiu para poupar o fôlego. Seu cérebro sentia a falta do oxigênio.
Desmaio iminente. Piscou para a doutora. Dois segundos antes do desmaio, ouviu seu nome:
“Ricardo Mendes.”
Virou-se repentinamente e mirou a secretária, que ao perceber que ninguém respondera, chamou uma vez mais: “Ricardo Mendes”. Ricardo levantou-se. Não conseguiu conter um sorriso. Encontrava-se na sala de espera. Largou a velha revista em cima da pequena mesa e dirigiu-se à porta aberta. Tinha toda a mentira já arquitetada.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sexo


Uma piscadela, um lisonjeio - aliás, um belo lisonjeio - e conseguiu o que queria.
Em realidade, era um grande esforço pra manchar a bela reputação que tanto lhe fazia mal.
Mais quatro dias de esforço, investimentos contínuos e outro sucesso.
Um caso antigo volta a ser realidade. Flertes e mais flertes. Mais um motivo pra acabar com sua reputação.
Falta de sucesso em duas tentativas, e êxito na subsequente. Assim viveria tão cálida vida. Quietude inquietante. Três beijos, um convite, uma cama bagunçada e a privacidade compartilhada.
Gargalhadas, um ranger de portas, fuga, correria, e alívio.
Mais dois beijos, alguns amassos, um café e quarenta minutos de prazer.
O perigo de uma vida entre outra vida. Susto, outro alívio, e mais quarenta minutos pela redenção.

domingo, 20 de maio de 2012

Datado de 31/12/2011 - Meu singelo ódio


A cada dia que passa, tenho mais motivos para odiar a vida.
E eu à odeio, amigo. Eu à odeio.
Odeio minha covardia, e quando a covardia some por alguns instantes, odeio minha honestidade. Nunca me leva a lugar algum.
Odeio estar tonto.
Odeio este maldito sentimento. Odeio.
Odeio sentir todo este ódio. Odeio minha vida. Odeio a vida. Odeio minha existência. Odeio sobreviver e não viver. Odeio não ter sua língua junto à minha. Te odeio.
Não é algo pessoal apesar de eu odiar-te um pouco mais que aos outros. É quase um lisonjeio. Te odeio. Odeio ter sentido saudades de me sentir assim.
Me odeio.
Odeio não conseguir reprimir toda esta esperança.
Te odeio por não ter me retirado toda a esperança.
Odeio todos os seres humanos.
Odeio conviver com cada um de vocês, porque os que me fazem bem, acabam por me fazer sentir-me mal.
Te odeio. Odeio o mundo. Odeio a vida, e com o perdão da repetição, odeio a vida. Odeio profundamente a vida. Odeio a ideia do suicídio. Odeio achar tal ideia charmosa. Te odeio.
TE ODEIO em caps lock. I hate you. Odeio o leitor e o escritor.
Odeio as profissões, a falta de opções, a inteligência e a falta de Inteligência. Odeio sua perfeição. Odeio profundamente a sua perfeição.
Odeio o amor platônico.
Odeio o Pataca.
Odeio meu ódio.
Odeio minha sabotagem, e odeio ainda mais a sua.
Chega! Chega disso! Te odeio por não gostar de mim da mesma maneira.
Odeio toda garota que me atrai.
Te odeio.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Sem cores


Tentei não usar este espaço para coisas muito pessoais, mas na falta de um ombro, tenho um blog.
Talvez seja bobeira, talvez não devesse sentir-se assim, quiçá egocentrismo ou expectativas muito altas. Não devia ter pensado que era tão importante. O tombo é bem maior.
E eu que andava execrando a solidão, já penso logo numa reconciliação. Venha cá, velha companheira. Venha cá.
Se quem te deu a vida não se lembra, não deves passar de um vulto. Talvez seja apenas drama. Talvez não passe de curta decepção. Altas expectativas. A volta da depressão.
Então que vá aos Diabos este maldito dia que foi feito especialmente para decepcionar-nos.
Agradeço a quem começou bem meu dia e os amaldiçôo por terem o meu ego inflado para que ainda no mesmo dia o mesmo fosse furado. Vinte e três facadas o roubaram o ar. E o dia acabou deixando um gosto amargo e 145 palavras de angústia.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Every time I see a beautiful girl on the subway, I fall in love. I fall in love with them and then I forget them. All of it in thirty minutes.
I could really date one of these gurls, though. I'd love to do so. I just don't have the opportunity. Gotta love 'em. Gotta do. Gotta kiss 'em. And fall in love again and again.

And my fingers are just like a machine. They're typing my love. Describing my feeling. Amores de metrô. You gotta recognize their value.

(...)

That japanese gurl is pretty. She is, in fact, gorgeous. And cuz I'm a needy guy, she becomes even better. Her style is my style. I like her shoes, her shirt, her angelical face... And my sunglasses help me check her out.

(...)

I fall in love every day, my dearest friend. Sometimes twice a day - or even more - but they do not see me. They do not notice me. And I wish they did.
If only they knew what's going on inside my skull... If only...


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Conto de 30 minutos

Uma de suas mãos segurava uma caneta, e a outra, uma garrafa da mais barata cerveja. Sobre a mesa descansava uma agenda e um cinzeiro – e este último segurava um cigarro que queimava lentamente. Mallu arregalou os olhos. Seu cérebro enviou a mensagem para suas mãos, que, sem titubear, responderam: Uma delas levou a garrafa até sua boca de lábios finos e bem desenhados, derramando o líquido amargo, fazendo-o descer pesadamente até seu estômago. Ao mesmo tempo, sua mão esquerda movia-se rapidamente devorando cada pedaço em branco do papel.

Escrevia com afinco, derramava sua angústia no papel, e o resultado era, como na maioria das vezes, divino. A beleza é nada mais que a tristeza recomposta. Fora assim com grandes mestres da música e da literatura, e assim o era com Mallu.
Cinco minutos foram suficientes para que a folha estivesse preenchida. Mais quatro minutos e também o verso já não possuía mais espaços em branco. Era uma bela justificativa para o que viria pela frente.
A Linda garota largou a caneta em cima da mesa, derramou mais um bocado de cerveja em sua boca, varreu o bar com seus olhos verdes e repousou-os em uma faca de cabo amarelo e ponta extremamente fina. Levantou-se de sobressalto, esqueceu-se da garrafa, do cigarro – que neste momento era só filtro – e apertou o passo, indo em direção à tentadora faca.
Cantarolava mentalmente uma canção que dizia “Eu apostei tudo, e eu perdi tudo. Como pude ter sido tão estúpido?” alcançou a faca, escondeu-a na manga de sua blusa (que usava por cima de um vestido azul que por sua vez realçava a beleza de seu corpo bem feito) e saiu do bar após ter deixado o dinheiro para pagar pela bebida.
Andou muito rápido pelas ruas. Evitava as calçadas. Lugares seguros a deixavam em pânico. Estava extremamente calma. Olhava crianças sorrindo e sentia-se enjoada. Suas pernas não paravam por um segundo. Os pescoços dos transeuntes viravam sempre que cruzavam com sua figura. Ela era apaixonante. Caminhava velozmente e desviava-se das pessoas que vinham na contramão. Armada com seu cérebro, seu peito e uma faca, ela tinha destino certo.
Dez minutos depois, chegou aonde desejava. Seu peito subia e descia, em partes por ter andado muito rápido, e em partes por culpa da ansiedade. Felicidade espontânea. Lembrou-se do que passara por Fernando, um rapaz exageradamente feliz, e sem muito pensar, tirou de sua manga a faca de cabo amarelo. Só agora percebia seus adornos. Era uma linda faca, e serviria a um lindo propósito. Se Drummond fizera sucesso com um poema que não dizia mais do que “Tinha uma pedra no meio do caminho”, ela entraria para história com aquela folha.
Causaria remorso em alguns, chocaria o país, mataria ainda um punhado, abriria os olhos de tantos outros, e satisfaria sua própria vontade.
Acendeu um último cigarro. Estava parada no meio do vão do MASP. Assim que terminou o cigarro, dirigiu-se para os elevadores. Foi até um andar onde uma exposição de Maurício de Sá estava à mostra. Chegou muito perto de um de seus quadros, sua obra prima, que levava o nome de “Amor além do espírito” e, colocando o papel sobre a tela, tirou a faca e fincou-a juntando bilhete e quadro.
Pessoas aglomeraram-se para ver o quadro chorar e sangrar, enquanto liam seu recado: “Liberdade não está na arte. A arte não está na liberdade. Há mais de uma pedra no meio do caminho, há uma faca no meio do amor e do espírito”
A frase repetia-se por 43 vezes, frente e verso.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Amores de metrô

Os amores de metrô me invadem os sonhos.
Deitados em minha cama, trocando os canais da TV com os pés, criticávamos a programação e parávamos ocasionalmente para que um de nós explicasse de que se tratava certo filme. Eu, que abraçava um de seus joelhos, vestia uma blusa gris e bermuda clara, enquanto você trajava um jeans e uma regata branca. Procurava o momento oportuno para arrancar-lhe um beijo, e, quem sabe, algo mais. Tal momento não chegara, uma vez que meus olhos abriram-se.
Acordei e decidi que odiava meu subconsciente.
Num surto de raiva desejei estar bêbado durante a manhã. Quis dormir e esquecer-me do sonho. Esmurrei o colchão que amanhecera sem o lençol por tanto ter-me revirado durante a noite. Repetia para mim mesmo: "não pode ser verdade" e "deve ser uma brincadeira" enquanto balançava a cabeça e continuava a agredir o pobre colchão.
Maldito sonho. Maldito subconsciente. Trabalho de uma semana jogado fora. Afundei a cabeça no travesseiro. Maldito subconsciente! Trabalho de uma droga de uma semana jogado fora.

Já sofrestes alguma vez com amores de metrô, querido leitor? Espero que sim. Não se deve evitar um amor de metrô, você sabe.
O mistério me apaixona. Os ideais me apaixonam. O rumo, a falta do rumo, um livro, um filme, três estações... Um café. A fala me apaixona, a falta da fala, o pensamento, a decepção... Não, não esta ultima.
You see, I actually hate her because she makes me like her.
Puzzling, right?

sábado, 7 de janeiro de 2012

Muito prazer

Tenho andado um tanto deprimido, e percebi que Gordon Comstock está mais presente em mim que nunca. Sinceramente, achei que Leonardo Pataca fosse mais forte que qualquer outro pedaço meu. (in)Felizmente estive errado e percebi que a droga da aspidistra ainda me maltrata.
Pouco importa que esteja amando Fulana. Aliás, amarei mesmo fulana? Ou será ilusão de sexo? Será que Fulana é real? A única maneira de saber é... Bom, chega de Drummond. Pro inferno com a Fulana. Não quero saber se ela diz Marxismo. O tema aqui é a aspidistra. Como posso deixá-la ser um problema deste tamanho em minha vida? Atrapalha todas as áreas. Tira a vontade. Faz-me enxergar as coisas de uma maneira turva.
Não sou mais Eduardo Pataca. Talvez nunca o tenha sido. Sou sim Eduardo Comstock.
And I want to keep the aspidistra flying.