Rabisquei um pedaço de papel com impressionante rapidez,
rasurei-o, dei razão às minhas palavras e, radiante, descobri a raiz de toda a
ideia – perceba bem, querida, que era possível ter usado cerne em vez de raiz.
Rádio ligado, raiar do sol iminente, rastro de bebida em meu
copo e de seu sorriso em minha mente. Tentativas frustradas, orgulho rachado,
e rapaz abalado em razão de tão enraizado interesse. Raptastes meus
pensamentos. Nem Raskólnikov rastejou tanto. Sou um ser humano mui raso, e admito
minha desvantagem ao competir com razoáveis rapazes, mais racionais e mais
belos que eu. Fui barrado, e ainda assim, sinto-me amarrado. E este desejo tão
profundamente arraigado não anda senão arrastado pelos quatro cantos de meu
corpo.
Quê dizer de seu radiante sorriso? Sem prolongar-se por
demais, raptou minha atenção, arrastando-a para lugares diversos. Ponderei se
uma última tentativa a faria ralhar. Agarrar a chance e me permitir errar, para
no futuro narrar a ausência do arrependimento.
Deixar jorrar a cobiça, não temer a premissa e dizer-te que me atiças a mente.
Deixar jorrar a cobiça, não temer a premissa e dizer-te que me atiças a mente.
Perceba, querida, que “cobiça”, “premissa” e “atiças” tem um
jogo de grande malícia no que possuem em comum. E volto a mencionar a raiz.
Raiz assim, se lida com rapidez, não pode estar mais explícita.