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domingo, 1 de julho de 2012

Sobre a Libertação Animal


Tatiane, dona de 16 anos, estava sentada numa mureta mirando as gaiolas vazias que foram outrora habitadas por infelizes galinhas.
Tati, como era chamada por todos, era vegana desde seus onze anos, e se encontrava agora em meio a um impasse: as gaiolas vazias a deixavam feliz, mas a causa do vazio das gaiolas era o falecimento de seu tio, que além das galinhas criara também porcos e bois para o abate. O falecimento de Roberto, seu tio, a entristecia, e eis o impasse.
Deveria ela contentar-se com a morte de alguém por este fato resultar no fim do sofrimento de outrem? E principalmente quando este alguém fora um ente querido?
O calor a todos castigava. Os rapazes não vestiam camisetas e as garotas usavam biquínis, com exceção de Tati, que trajava um belo e leve vestido.
A lembrança da morte de seu tio a angustiava, mas também a recordação das galinhas que mal conseguiam virar-se a chateavam. Assim é a vida: a criação de um problema resolve três outros, enquanto a solução de um problema é a causa de outros oito.
Ainda que a morte de seu tio fosse ofuscada ou justificada pela liberdade de outros animais, deveria Tati comemorar? Não estariam outros cinco criadores de animais nascendo neste exato momento? E ainda que não, com tanta luta pelo dinheiro, não seria possível dizer que as empresas aumentariam a produção, compensando a morte de qualquer pobre diabo que criara animais para transformá-los em comida, para assim suprir a demanda? Não há porque comemorar a morte de um opressor se para ele houver um substituto.
Cada pessoa que comprava e comia um bife era um opressor. Se não era o assassino, era o mandante do crime. Julgue qual o pior. E há toda a sorte de desculpas: Alguns usam outros animais como apoio, “mas o leão come carne!”. E ele também dorme em qualquer lugar – não em uma cama confortável – e não se importa com o dinheiro. Não vejo muitas pessoas seguindo seus passos neste sentido.
“Temos a capacidade de organizar as ideias e pensar de forma lógica, diferente deles. Que estúpida comparação!” Todos que estavam à sua volta a olharam, alguns viraram-se para encará-la e outros, esses mais discretos, a olharam com os cantos de seus olhos. Tati estava perdida em meio a seus pensamentos e nem havia percebido que falava em voz alta. Ela sorriu e levantou os ombros como quem perguntava “Quê posso fazer?”
De volta a seus devaneios, Tati imaginou outra desculpa: “É a cadeia alimentar”. Mas o que diabos isso deveria significar? Se o mais forte deve sobreviver, deveriam os homens mais franzinos serem devorados por brutamontes?
Outros diziam que a carne era demasiado gostosa. Ora, quando alguém mata um ser humano por prazer não pode usar tal desculpa para não ir pra cadeia!
Há pessoas que se apóiam no comodismo e dizem: “Mas é muito difícil repor as vitaminas!” o que é uma grande mentira. Nada garante que uma pessoa que tenha a carne inclusa em sua dieta seja mais saudável que um vegetariano. Além disso, ainda que fosse muito trabalhoso repor as vitaminas... Bem, posso roubar um açougue ao invés de trabalhar e conseguir o dinheiro pra comprar a carne? É um tanto mais fácil! Então roubar alguém para melhorar e facilitar a minha alimentação não é certo, mas não há problema algum em tirar uma vida com o mesmo propósito?


Continua... 

2 comentários:

  1. É a tradição. E nada mais.

    Acho que não tem nada de enigmático naquele que come carne.

    O meio em que é criado o faz pensar que não é errado comer carne. Outros desenvolvem sua convicção em sentido oposto.

    Ambos não comem insetos pois não faz parte de sua cultura. Não é desculpa, mas sim algo que deve ser levado em conta. Não como uma resposta, porque não deveria haver pergunta.

    Pode até parecer que ignorar os motivos é deixar-se escorregar pelos fios do coelho na cartola, como dizia Jostein Gaarder, mas acho que não há nada 'além'.


    Gosto de como se expressa.

    Gabriel E.

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  2. Eu entendo perfeitamente e concordo com o que pensa. É um fator cultural, assim como o fora a escravidão.
    O meio determina o ser. Só não concordo quando diz que não deveria haver pergunta. Sempre tem de haver pergunta.

    Essa citação de Gaarder me dá uma saudade do Mundo de Sofia...

    Muitíssimo obrigado pelas palavras. Precisamos nos encontrar num dia desses pra conversar, não é?

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