Bernardo caminhava com as mãos no fundo dos bolsos e com a cabeça ligeiramente inclinada para a direita. – Indício de que estava pensando. Estacou, arregalou os olhos, sentiu o estômago queimar e liberou um meio-sorriso. Era arriscado. Extremamente arriscado.
Ao final da tarde, o rapaz encontrou-se com Clarissa. Sentou-se à sua frente com seu costumeiro copo de café, sorriu, enfiou uma das mãos no bolso de seu casaco e sacou quatro tiras de pael. Era arriscado, mas ele preferia o risco à espera. Clarissa encarou-o com curiosidade.
“Há em cada uma destas tiras um futuro diferente,” explicou Bernardo, “e você vai decidi-lo na sorte.” Clarissa ainda não entendia exatamente o que estava acontecendo, mas teve medo. “A primeira tira carrega a palavra ‘jamais’ em sua face,” Clarissa estremeceu, “a segunda diz ‘não agora’ e a terceira tem a palavra ‘sim’ escrita. Vou te fazer uma pergunta, e a resposta será a que estiver no papel escolhido.”
Clarissa corou, olhou para o chão, sentiu o estômago aquecer-se e pela primeira vez naquela tarde, fez-se ouvir: “Mas eu vejo quatro tiras de papel, e você só me revelou o conteúdo de três delas.” O sorriso de Bernardo desmanchou-se. “Está em branco.”
Clarissa concordou com a cabeça, mas hesitou por falta de coragem. Puxou ar para dentro dos pulmões e quase desistiu. Mordeu os lábios e olhou para Bernardo. O rapaz estava desconsolado. Com uma voz muito tranqüila, Bernardo finalmente perguntou: “Dá-me um beijo?”
Em uma fração de segundo, Clarissa pensou que não arriscava o futuro, e sim o presente. Sem dar tempo ao cérebro, puxou para si um dos papéis e abriu-o ofegante.
Em uma fração de segundo, Clarissa pensou que não arriscava o futuro, e sim o presente. Sem dar tempo ao cérebro, puxou para si um dos papéis e abriu-o ofegante.
Bernardo engoliu em seco. Clarissa nada dizia. Encarava o papel com obsessão tamanha que Bernardo não esperava nada positivo. Clarissa desviou os olhos do papel para encarar Bernardo, que, tentando descobrir a palavra escrita, baixou a cabeça para olhar o papel contra a luz.
Clarissa fechou a mão escondendo dentro dela o pedaço de papel. Bernardo assustou-se. Clarissa fez menção de entregar-lhe o papel e quando sentiu que sua mão estava suficientemente próxima aos outros três pedaços de papel, agiu rapidamente, misturando as tiras na palma de sua mão. Bernardo enrubesceu, e um segundo depois percebeu que Clarissa não havia obtido sucesso em recolher todas as tiras. Restava uma na mesa, a qual ele recolheu e abriu, lendo em voz alta a palavra “Sim”.
Clarissa estava mortificada. “Essa foi a coisa mais estúpida que alguém já fez!”
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