Quando Eric ouviu a porta sendo aberta, tentou, em vão,
esconder o texto por ele mesmo escrito, na primeira página de seu caderno. Suas
mãos cobriram as palavras, mas seu rosto o denunciou.
Nicole, ao perceber que Eric temia algo, baixou os olhos
para as mãos do rapaz, e as viu pressionando o papel com mais força. Apertou os olhos, comprimiu os lábios, e
puxou o caderno para si.
Ambos ofegavam. Tremendo, Nicole iniciou a leitura.
Fui vencido, meu caro amigo. Fui realmente vencido. Do céu
ao inferno em cinco minutos. Aposto que não sabes do que falo. A vida é
pútrida, caro amigo. Pútrida. Resta-me quebrar regras, dançar diferente ritmo,
e fingir alegria. Do céu ao inferno em cinco minutos.
Companheiro, não há céu ou inferno, e, muita vez, o que aqui
se faz, jamais se paga. Não deixes que o senso comum tome posse. Entrega-te a
ti mesmo, e salve-me de mim. Sou um poço fundo.
Indigno daquelas senhoras. Sou um poço extremamente fundo.
Não tenho orgulho nenhum de coisa nenhuma. Quero conseguir
desaparecer antes de atravessar a rua. Do céu ao inferno em cinco minutos.
Constatação do óbvio, solidão, insegurança e ansiedade. Se ao menos fosse capaz
de controlar-me...!
Não
quero fingir indiferença, mas não sei como proceder.
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