Transcrever emoções, sentimentos, passado, futuro ou desejos, é viver - ou reviver - tudo o que há de melhor.

domingo, 23 de setembro de 2012

D E S (e a quebra de barreiras)


Vincent acordou, mas não abriu os olhos. Ficou parado na mesma posição por aproximadamente dez minutos, e então, ainda deitado na cama, abriu os braços e esticou as pernas para espantar a preguiça. Seu braço direito bateu em algo que, ao sentir a pancada, moveu-se. Vincent abriu os olhos e virou o pescoço. Sentiu um súbito calor no estômago e não conteve um pequeno sorriso. Estava feliz, mas tinha vontade de chorar. Não pôde mover-se por outros dez minutos. Não sabia que sentimento era aquele, mas era algo inusitado. Passados os intermináveis dez minutos, levantou-se muito cuidadosamente, contornou a cama, sentou-se de frente para o corpo que em sua cama descansava, e pôs-se a observá-lo. Sentia um misto de sentimentos. Jamais enfrentara tantas sensações em tão curto espaço de tempo.
A princípio pensou estar fazendo algo errado, não-natural. Desviou o olhar daquele rosto imaculado e encarou as paredes. Buscou desesperadamente por uma distração. Tentou descobrir de onde viera aquele pequeno buraco na parede, tentou lembrar-se qual fora a última passagem de “Fausto” que lera, tentou confirmar quais eram as coisas que precisava incluir na lista de compras, mas nada disso o impediu de lembrar-se da noite anterior. Vincent forçava as mandíbulas e repudiava suas próprias ações. Dois minutos mais tarde, desejou volver àquela noite e reviver as emoções. Levantou-se, foi até a janela de seu quarto e calculou a distância entre janela e calçada. Aproximadamente três metros e meio.
Voltou o olhar para o corpo desnudo, e desconfiou de sua própria desaprovação. O descoberto corpo que despojava-se de preocupações voltou a atraí-lo. Desconcertado, Vincent julgou desprezível e desdenhou de seu despreparo para lidar (tão desesperadamente!) com a situação. Nada havia de errado com o corpo de Deodoro, presente de Zeus.
Vincent precisava enfrentar seus preconceitos, e estava disposto a fazê-lo. Aproximou-se de Deodoro, beijou-lhe a testa, o nariz e os lábios, mostrou-lhe um sorriso e muito afeto. Voltou a contornar a cama e deitou-se, agora pouco menos preocupado.

Um comentário:

  1. Muito Bom! Intenso! A não aceitação começa por nós mesmos! Mas aos poucos a sociedade vê que o importante são as qualidades das pessoas independente de sua cor, suas formações, suas orientações políticas, religiosas e sexuais!

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